#103 – Gaia episódio 3 – Projetando o futuro

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Como é possível fazer projeções de como será o clima no futuro? E como é possível usar essas projeções para agir? Nesse episódio do Gaia, o Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará, fala sobre os Modelos Globais de Clima e a pesquisadora Layla Lambiasi conta sobre o estudo, realizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV com a Agência Nacional de Água, que avaliou medidas de adaptação em uma bacia no nordeste do Brasil. Este é o terceiro episódio da série Gaia. A produção e edição é feita por Oscar Freitas Neto. O projeto é uma produção do podcast Oxigênio, do Labjor/Unicamp, e conta com a orientação de Simone Pallone. A responsável pela distribuição do podcast é a Helena Ansani Nogueira. --- Oscar: Como você acha que será o mundo daqui a 30 anos? Como serão as cidades, o campo? E o clima? Vai ser mais quente, mas quanto mais quente? Quão incerto é esse futuro? Neste episódio nós vamos falar sobre como é possível fazer projeções de como será o clima do futuro. E, depois, vamos falar como é possível agir considerando as incertezas, pegando como exemplo um estudo que avaliou medidas de adaptação em uma bacia no nordeste do Brasil. Alexandre: Ah, vamos testar aí o que acontece com o planeta se eu queimar todo o carvão que está enterrado no subsolo na forma de CO2 na atmosfera. Vamos só experimentar, testar. Não, né? Ninguém faz isso. Mas com uma terra simulada, uma terra dentro do computador a gente pode fazer. Oscar: Esse é o Alexandre Costa. Alexandre: Sou professor titular da Universidade Estadual do Ceará, sou cientista do clima e trabalho com modelagem climática. Oscar: Os modelos climáticos, com os quais o Alexandre trabalha, são a única forma de antecipar os impactos das mudanças que podem ocorrer no clima. Isso porque eles dão essa possibilidade de ter um planeta alternativo, um planeta-laboratório, onde é possível fazer qualquer experimento com o clima. Alexandre: Tira a calota polar, aumenta a quantidade de luz solar, polui o ambiente e modifica as propriedades das nuvens, tira a Amazônia, enfim, faz um monte de alterações para ver o que acontece com o resultado final. Oscar: Esses modelos são baseados nas leis da física e equações que descrevem os processos físicos e biogeoquímicos do planeta. Por exemplo, eles incorporam os chamados Modelos de Circulação Geral da atmosfera e do oceano. Alexandre: O modelo climático, além do módulo atmosférico e do módulo oceânico, ele tem em geral muitos outros componentes hoje em dia. Ele precisa ter componente de criosfera, de gelo marinho e de gelo continental, eles precisam ter modelo de biosfera, e boa parte deles tem ciclo de carbono, química da atmosfera. E todos esses modelos de subsistemas precisam estar acoplados entre si. Oscar: Mas,  para entender como é possível fazer projeções, é importante entender a diferença entre tempo e clima.  Alexandre: Quando a gente fala de previsão de tempo, embora muitas vezes se fale de probabilidade de chuva, mas a previsão de tempo ela se preocupa com algo mais determinístico, ou seja, quando e onde vai chover, qual vai ser a temperatura em região X daqui a dois, três dias ou na semana seguinte.  Oscar: Já com o clima, a preocupação não é com previsão de eventos específicos em datas determinadas. Alexandre: Clima não vai se preocupar, por exemplo, se vai ter chuva no Ceará no modelo climático para o dia 15 de outubro de 2074. Embora essa informação esteja lá, ela não tem valor, não tem significado em termos determinísticos, não é prever que isso vai acontecer. Quando a gente está olhando para o clima, a gente tá olhando para a estatística do tempo. E acho que o paralelo melhor que pode ser feito é com o lançamento de dados, dados de jogo. Oscar: Se a gente joga um dado normal, se ele não estiver viciado, a chance é de um sexto para cada lado. Mas se ao invés de só um, a gente joga 100 dados é possível antecipar que o valor médio deve ser por volta de três e meio.