“Bpm” de Salvador Sobral: Uma ode à música e à vida

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Salvador Sobral subiu ao palco de La Cigale na segunda-feira, 31 de Janeiro, na abertura da 15 edição do festival Au Fil des Voix. O cantor português e vencedor da edição de 2017 do festival Eurovisão da canção apresentou ao público o último trabalho bpm, integralmente escrito por ele em França. Salvador Sobral tocou esta segunda-feira na sala La Cigale, em Paris. Partilhou histórias, dançou, tocou e cantou em português, inglês, espanhol e francês. Foi com ritmo e energia contagiante que Salvador Sobral partilhou com o público os seus "batimentos por minuto". RFI: Este é o seu segundo concerto em Paris. Depois da sua estreia, em 2019, no teatro Des Bouffes Du Nord Salvador Sobral: Este foi um regresso a casa porque vivo entre Paris e Lisboa. A minha casa é aqui muito perto de La Cigale. É um momento bastante simbólico.. Neste álbum, composto por 14 faixas, fala do medo de morrer, fala de amor ou de solidão. Porquê batimentos por minuto?  Quando estava a pensar num título para o álbum, queria que fosse um título internacional para não ser exclusivo a uma única língua. Numa insónia que tive, pensei no que liga a vida à música, qual o elemento mais forte que as conecta e acho que são estas pulsações. Estes batimentos por minuto do coração, que nos fazem respirar, andar e falar. Pareceu-me ser o elemento mais gritante. Quando estive no hospital, teve sempre um monitor que marcava os meus batimentos por minuto e senti que era o único elemento musical que existia naquele hospital e naquela experiência toda clínica. Aquela sigla era como a música e remetia aos meus tempos de estudante de jazz à música. Uma pulsação entre a vida e a música. Este álbum começa com a faixa 'mar de memórias'. Que memórias guarda? Guardo todo o tipo de memórias, tanto boas como menos boas. Devo confessar que tenho uma memória muito má. Tenho a sensação que a minha memória está toda ocupada pelas músicas que apreendi, pela música que faço ou pelas línguas, porque sou muito obcecado pelas línguas. Sou uma pessoa que adora cinema, vou muito ao cinema, e quatro dias depois não me lembro do filme que vi. O que é óptimo porque posso repetir (os filmes) muitas vezes. Leio um livro e de repente não me lembro do que fala. Por exemplo, le sang des autres, de Simone de Beauvoir, foi um livro que marcou a minha vida. No outro dia pensei nele e não me lembrava do que fala. Por vezes fico preocupado com isto, mas a minha cabeça é que é muito selectiva e decide memorizar música e línguas. O resto fica secundarizado.  A música é uma forma de imortalizar memórias? Completamente, especialmente as memórias afectivas. Em palco consegue ganhar altitude e elevar o público consigo. É essa a magia do concerto ao vivo? Nós vimos todos do jazz, todos os músicos, e faz com que cada concerto seja diferente. Há muita improvisação, muita comunicação entre os músicos. Há muita liberdade. Não quero nunca repetir-me senão vou morrer de tédio. A ideia é sempre criar, em cada concerto, soluções novas. Procurar comunicar uns com os outros de maneira distinta e com o público. O público é sempre diferente e dá energias e estímulos diferentes. Cada concerto é sempre uma aventura de liberdade, comunicação e interacção. É difícil conseguir uma carreira internacional? No meu caso a Eurovisão deu-me uma rampa de lançamento importantíssima, mas cada território é um território. Temos vindo a trabalhar muito no leste da Europa, onde funciona muito bem. Também em Espanha, Itália, Alemanha. Em França é difícil porque é um território difícil de entrar. Este concerto em La Cigale é muito importante. Em 2019, tocámos em Bouffes Du Nord e foi (um concerto) muito mágico. La Cigale é um segundo passo importantíssimo para construir esta carreira em França, mas não é fácil, especialmente, para quem não faz fado. Se fizesse fado seria mais fácil, mas estou na missão e não vou desistir. O que explica haver tantos fadistas a tocar em Paris e em França? Não é só em França é em todo o mundo. O fado é a música com mais poder de exportação do nosso país. Suponho que é o flamenco em Espanha. Felizmente, tenho vivido tempos muito felizes e tenho levado a minha música até à Islândia, à Lituânia... Em França estamos a tentar construir pouco a pouco. O público francês é exigente e não gosta de qualquer coisa, então temos de provar que é capaz. O mundo descobriu-o em Maio de 2017. Sente-se, por vezes, refém deste êxito de 'Amar por dois'. O que mudou em cinco anos? Mudou tudo, mudou a minha vida inteira. A partir daí comecei a tocar por todo o lado, que era uma coisa que almejava, mas que pensei que demoraria muito mais tempo. Não me sinto refém, justamente eu faço questão de não ficar refém da canção. Há dois anos que não toco sequer a canção, porque já não faz sentido no disco que estou a apresentar e na estética musical que quero defender. A canção já nem está presente nos concertos. Só de vez em quando, quando sinto uma grande vontade de a tocar, senão, não. Não quero ter 80 anos e estar com uma bengala a cantar o 'Amar pelos dois' para as pessoas. Não é isso que quero para a minha vida. Pode ter consequências, mas estou preparado para aceitá-las. Canta em português, inglês, espanhol, francês. Para quando mais canções em francês? Já há uma canção no disco anterior, no "Paris-Lisboa". Há uma canção que se chama "La Souffleuse", que a minha namorada Jenna escreveu. Para o próximo disco também já escrevi algumas coisas em francês porque gostaria de ter mais repertório em francês.