[S01E04] Sobre Confiança

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Crônicas do Fim do Mundo

Arts


O episódio "Sobre Confiança", de "Crônicas do Fim do Mundo" foi produzido por Caio Salgado. Comentários, críticas e sugestões: caio@chsalgadofoto.com.br ou pelo Twitter: @chsalgado. Leia essas e outras crônicas no Medium. Acesse o link: https://goo.gl/tIGy6p Transcrição Boa tarde. Tudo bem? Para onde a gente vai? Você está confortável? Se importa se eu ligar o som? Eu adoro essa música. Dá uma sensação de tranquilidade. De paz. Eu estava pensando nisso um dia desses. Não, não em paz. Nos sentimentos. Queria descobrir qual deles é o mais importante. O que você acha? Qual o mais forte deles? O amor? O ódio? O medo? Você pode até ter a sua opinião. Ela pode até ser diferente da minha. Para mim tanto faz. Até o fim da nossa conversa, vamos estar na mesma página. O mais sólido dos sentimentos é, sem dúvida, a confiança. Quando a sua mãe se casou com seu pai – se é que eles se casaram - e decidiram morar juntos, todos falam que a decisão é motivada por amor. Entretanto, antes que sua mãe tivesse que lavar as cuecas do seu pai, foi criada uma relação de confiança entre os dois. Amor é só uma forma não palpável de confiança. Como podemos definir objetivamente, confiança é a certeza. A tranquilidade de que alguém irá sempre cumprir o que se espera dele. Por isso, tão complicado como amar, é confiar em alguém. Agora eu te pergunto. Você já confiou em alguém sem sequer conhecer? Não? Ah, eu posso garantir que sim. A quem você entrega seu corpo, seus pertences e seu destino sabendo, no máximo, um nome? E esse nome nem precisa ser verdadeiro. Vou te dar uma dica. Tem estofado gasto e cheira a nicotina. Se confunde em meio a milhares de outros veículos, todos pintados de amarelo, com uma plaquinha em cima. E por que não confiar? Somos todos homens simpáticos, entendemos de futebol, do clima... A gente sabe exatamente o que acontece e onde acontece. Nós já salvamos você em inúmeras situações. Na chuva, atrasado para uma reunião com o cliente, às seis da tarde. E, apesar de eu estar aqui, dando uma infinidade de motivos pelos quais você deveria nos confiar seu destino, você está, ao contrário, começando a duvidar disso. Peraí. Não precisa descer agora. Eu ainda não terminei. Você, o protagonista da sua vida, está aí atrás, isolado. Uma camada bem resistente de acrílico nos separa e, se olhar para a porta, verá que ela está travada. Não precisa gritar. Estamos anônimos, em meio a dezenas de táxis que pegam dezenas de passageiros que chegarão exatamente no destino planejado. O que não é o nosso caso. Nós vamos na direção do Sol. Admire o pôr do sol, você não o verá por um bom tempo. Viu por que a confiança é tão importante?