São Tomé e Príncipe não vê “qualquer preocupação com o estatuto solicitado para Israel"

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Segundo e último dia da 35a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, a decorrer em Addis Abeba, Etiópia. A chefiar a delegação de São Tomé e Príncipe está a ministra dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidades Edite Ten Jua.  Em entrevista à RFI a ministra são-tomense não vê “qualquer preocupação com o estatuto solicitado para Israel de observador da União Africana” e sublinhou ainda a “necessidade de fortalecimento da estabilidade política e governativa a nível do continente”. Que mensagem São Tomé e Príncipe trouxe a esta cimeira?  A mensagem primordial que São Tomé e Príncipe traz a esta Assembleia é uma mensagem da necessidade de fortalecimento da estabilidade política e governativa a nível do nosso continente. Numa altura em que vão acontecendo vários focos de conflito a nível do continente, o último dos quais em Bissau a 01 Fevereiro, é importante dizer que haja estabilidade. Estabilidade não de uma forma teórica, estabilidade do ponto de vista prático a nível da questão da boa governação e a nível dos mecanismos que possam, eventualmente, servir para impedir este tipo de práticas porque, a verdade é que temos reparado, que tem havido de forma muito recorrente esse tipo de eventos. A União Africana faz este ano 20 anos, foi criada tendo como base a estabilidade, paz e segurança do continente. O que é que falta para que 2021 e também já 2022 fiquem marcados por golpes de Estado? Além de que também estamos na Etiópia, país que vive um conflito no Tigré. Ainda estamos numa caminhada por uma maior maturidade da própria organização. Os conflitos não têm pré-aviso, infelizmente vão surgindo. A União Africana e os estados o que têm de fazer é encontrar efectivamente formas de os estancar.  Agora é importante dizer que vivemos tempos muito peculiares, com a própria situação da pandemia da covid-19 que nós todos ainda estamos a combater. Há uma série de factores, de vulnerabilidades do ponto dista global e sobretudo, neste caso particular, no continente africano que favorece de alguma maneira este tipo de situação.  O advento do terrorismo não é novo, fomos tendo focos de terrorismo um pouco por todo lado a nível dos vários continentes. Infelizmente assola com mais recorrência o continente africano. Temos que ter um posicionamento claro: cultivar a paz. A cultura da paz, a cultura de tentar encontrar soluções para evitar este tipo de conflitos que de maneira nenhuma ajudam aquilo que é o próprio projecto basilar da União Africana baseado nos princípios do pan-africanismo. A União Africana vai sinalizando, vai pondo e criando plataformas de comunicação e de diálogo entre os vários parceiros, como forma de minimizar os conflitos e, também, do ponto vista da prevenção. O facto da União Africana não ter uma posição mais forte em relação a golpes de estado, concretamente sanções, não faz com que militares seja mais fácil tomar o poder porque sabem que depois não há consequências? As sanções não são, do meu ponto de vista, a forma natural para se lidar com os problemas. Mas são, efectivamente, mecanismos que existem como forma dissuasora. Mas havendo prevaricação elas têm que ser accionadas para que se possa restituir a legalidade das situações. Sobretudo penso que o fundamental é o diálogo. Não se consegue resolver ou prevenir este tipo de conflitos se não houver uma cultura de grande comunicação entre os estados africanos. Nós temos sobretudo o que incentivar a comunicação entre os povos dentro do continente africano. A questão de Israel domina os trabalhos desta 35ª Cimeira da União Africana. Qual é a posição de São Tomé e Príncipe em relação ao estatuto de observador de Israel?  São Tomé e Príncipe tem por tradição ter um relacionamento pacífico com os parceiros ou com quem queira, de facto, lidar connosco quer seja do ponto vista bilateral ou no contexto multilateral. Nós não vemos qualquer preocupação com o estatuto solicitado para Israel, de observador da União Africana, na medida em que São Tomé e Príncipe já tem relações diplomáticas com Israel e, portanto, seria um contrassenso ter alguma objecção ao seu próprio estatuto de observador. O facto de nesta cimeira se falar sobre Israel não ofusca temas que são muito importantes para o continente, como por exemplo as consequências do que covid-19 para África? O covid-19 é um problema global. Naturalmente que o continente tem outros desafios. Enquanto os países chamados mais avançados já estão a fazer um reforço da terceira dose da vacinação, nós no continente africano ainda estamos, em alguns casos, a tentar fazer a primeira e a segunda dose da vacina.  São universos completamente diferentes, naturalmente que na luta contra a questão da pandemia do covid-19 estamos a funcionar, do ponto vista global, a velocidades diferentes. Mas o continente africano tem também outras aspirações. O África CDC, organismo para controlo das doenças, tem funcionado muito bem e tem sido capaz de dar resposta aos grandes desafios do ponto de vista da saúde, particularmente no caso da covid-19.  Agora, temos de nos reorganizar em alguns aspectos e esta cimeira acaba por abordar esta questão, a questão das vacinas, da produção dentro do próprio continente e encontrar respostas ao problema que também é nosso.