#115 – Leitura de fôlego: O ensaio em cena ou o espetáculo da dúvida

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  Às vésperas do Natal de 2020, ano difícil, de pandemia de Covid-19 e isolamento social, o Oxigênio traz o segundo episódio da série "Leitura de Fôlego", uma forma de nos conectarmos com nossos ouvintes com um tema mais suave para esses dias em que começamos a desacelerar. “Leitura de Fôlego” é uma série que apresenta temas de pesquisas de professores do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp. Nesse episódio, conversamos com o professor e pesquisador Alexandre Soares Carneiro sobre um tipo de texto que pode assumir diferentes formatos e que dá liberdade para seus escritores revelarem o processo irregular de seus pensamentos, suas dúvidas e até seus defeitos, tudo isso em um tom parecido com uma conversa. O assunto de hoje são os ensaios. Após ouvir algumas características desse texto, vamos conhecer mais sobre um importante ensaísta francês do século XVI, Michel de Montaigne. Ele inaugurou o uso da palavra “ensaio” para se referir a esse tipo de texto e escreveu sobre os mais diversos temas: desde o pedantismo, os índios canibais até os polegares. Depois, nossa conversa passou pelo ensaísmo brasileiro, que é mais importante do que parece. E acabou com dicas para quem quiser começar ou continuar a ler esse tipo de texto. Quem está à frente deste projeto é a Laís Souza Toledo Pereira, com supervisão e edição de Simone Pallone e trabalhos técnicos de Gustavo Campos e de Octávio Augusto Fonseca. Quem ajuda na divulgação do podcast é a Helena Ansani Nogueira. Vamos ao episódio, que é o número 115 do Oxigênio. **************************** Laís Toledo: Oi! Eu sou a Laís Toledo, e esse é um episódio da “Leitura de fôlego”, uma série sobre Literatura pro podcast Oxigênio.  Laís: Os bastidores dos nossos pensamentos não são nada glamurosos. Hesitações, dúvidas, correções... A gente tende a não querer mostrar esse tipo de coisa. Ainda mais em um contexto entulhado de textão nas redes sociais, com mitos de um lado e cancelados do outro... Outra coisa que a gente não gosta muito de mostrar são as nossas frustrações, as nossas imperfeições. É filtro, edição, marketing pessoal e #gratidão que não acaba mais... A conversa de hoje é sobre um tipo de texto que autoriza o autor a se mostrar, sem certezas e sem enfeites. Vamos falar sobre Ensaios. Quem conversa com a gente hoje é o Alexandre Soares Carneiro, professor do Instituto de Estudos da Linguagem, o IEL, da Unicamp. Sua trajetória de pesquisa abrange assuntos como Literatura Portuguesa, Literatura Medieval e o Renascimento. E, há mais de dez anos, ele tem se dedicado a pesquisar também o nascimento e as transformações do gênero ensaístico. Bom, o ensaio é um tipo de texto que dá espaço pro autor se mostrar, com suas dúvidas e imperfeições. Mas ele é muito mais do que isso. Pra começar essa conversa, eu pedi pro Alexandre dizer como ele definiria um ensaio. Alexandre Soares Carneiro: Eu diria que o ensaio é um texto de reflexão de forma livre, o que dificulta muito uma definição, porque obviamente ele pode assumir aspectos muito variados. Mas podemos identificar a tal liberdade do ensaio no fato de o ensaísta expressar não apenas o resultado final, mas um pouco do processo irregular do pensamento, desde a formulação de um problema, uma dúvida, um paradoxo que ele observou, passando pelas hipóteses iniciais, as hesitações, desvios, correções. O ensaio tende a incorporar as dúvidas naturais do processo de reflexão, talvez como as perguntas de um interlocutor imaginário, o que remete à característica dialógica do pensamento. Assim, a gente pode associar o ensaio à conversação, com sua típica a-sistematicidade. A liberdade de testar ideias ou perspectivas insólitas também pode ser associada ao espírito da conversação. Laís: Além dessa associação com a conversa, com sua natureza não sistemática, não organizada, o Alexandre falou também sobre uma diferença entre a palavra “ensaio” e os textos com características de ensaio.