Bill Watterson – conheça o criador de Calvin e Haroldo

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Como a Conrad retornou e vai terminar de publicar a coletânea completa de Calvin e Haroldo, resolvi resgatar um texto de 2015 que eu escrevi sobre Watterson, atualizá-lo e transformá-lo em um dos vídeos que estou fazendo para uma playlist de análise da obra de artistas que eu admiro. O vídeo é esse, caso queira ouvir o texto em formato podcast está no final do post e, após o vídeo, meu texto original de 2015. Compre todas as edições disponíveis de Calvin aqui https://amzn.to/2WlARUG (inclusive a nova já está em pré-venda) Quem lê em inglês, recomendo essa edição completa (é a que eu tenho) https://amzn.to/2Otrq0O https://youtu.be/FnhAmAn3ipc No dia 18/11/1985 se iniciava uma jornada que duraria dez anos e continuaria influenciando gerações por um tempo ainda imensurável, essa foi a data da publicação da primeira tira de Calvin e Haroldo nos EUA. Boa parte dos grandes artistas era de Ouro dos Quadrinhos americanos passou pelas tiras de jornais, mas com o tempo e a massificação dessa arte essa atividade artística/comercial mudou imensamente. Bill Watterson de certa forma faz parte do "canto do cisne" das tiras de jornais. Calvin e Haroldo é tido por alguns como o último grande personagem das tiras de jornais (parte disso se explica pela decadência do jornal e uma suposta impossibilidade de uma nova tira atingir a universalidade de Calvin, Snoppy e outros - veja que aqui não falo das tiras como gênero pois elas encontraram um grande espaço na internet). Mas independente disso o que importa mesmo é que a qualidade das tiras produzidas pro Watterson era assombrosa. E, além da arte, ele é uma pessoa bem intrigante, recomendo assistir o documentário Dear Mr. Watterson que oferece um panorama muito interessante de um artista extremamente coerente. Watterson foi um ativista da arte, defendia a valorização da classe, a produção de boas tiras de jornais e não caça-níquéis e, como parte da coerência artística, ele nunca permitiu que seus personagens se tornassem "mercadorias" (bichos de pelúcia e merchandising diversos) e durante sua carreira criticou muito os artistas da geração dele que faziam isso. Ele tomou uma série de medidas para o que trabalho dele fosse mais importante do que ele em si. Não há fotos de Bill Watterson por aí. As entrevistas são raríssimas e ele se tornou um verdadeiro recluso depois que encerrou a tira. Outro mérito foi a extrema dignidade com que ele saiu de cena. Ele parou com a tira no auge em um momento que o espaço dos quadrinhos nos jornais era reduzido e a qualidade da artes publicadas nos jornais passava a sofrer uma queda. Outra ponto bem interessante no trabalho dele eram as tiras dominicais. Aos domingos ele tinha um espaço que equivalia a duas tiras e ele descobriu que alguns jornais pegavam suas tiras dominicais e a dividiam em dois dias então ele passou a trabalhar o espaço como uma única coisa, ocupando a área de forma a ser impossível de dividir e inovando na narrativa visual tão padronizada da tira. E, é claro, que o traço em si de Calvin é algo singular. Poucas linhas, todas precisas, dentro do gênero tira/cartum, mas com uma estrutura, forma e elegância surpreendente. Inclusive o movimento e o dinamismo do traço dele era tão bem pensado que é possível ver tudo se movendo pelas páginas (uma dessas demonstrações de movimento mais famosas é a tira do Calvin e o Haroldo dançando, a tira está aí embaixo, junto com uma animação feita por um fã) Apesar da maioria das tiras serem branco e preto, é inegável a qualidade do trabalho de cores dele nas páginas dominicais e capas. Watterson é um sujeito para se admirar em vários sentidos. Imagino que todo mundo conheça Calvin, mas caso não conheça vale muito a pena.